Ser assertivo significa expressar opiniões, sentimentos e necessidades de maneira direta, clara e respeitosa, sem violar os direitos dos outros. É, portanto, encontrar um equilíbrio entre defender interesses próprios e o respeito pelos direitos do outro. De certa maneira, fazer com que seja respeitada a minha posição, sem com isso provocar ou agravar um conflito. Para isso, é necessário estar calmo e comunicar sem ansiedade ou hostilidade excessiva ou indevida.
A ansiedade é a previsão de uma emoção negativa. Também lhe poderemos chamar receio ou medo, quando existe um perigo bem identificado. O fator essencial da ansiedade é a incerteza. Isso significa que se soubermos o que uma coisa é e como nos poderemos comportar perante a situação que a envolve, poderemos, pelo menos, começar a pensar nela e a planear uma orientação de ação para podermos lidar convenientemente com ela.
Por outro lado, arremessar com os nossos direitos ou posições de uma forma hostil, exigente, ameaçadora ou punitiva para com o outro, poderá motivar uma reação defensiva indesejada que em nada contribuirá para um desfecho positivo.
Pedir dinheiro a alguém é algo que rapidamente poderá degenerar num conflito se, pelo menos, uma das partes não for uma pessoa assertiva. Percebe-se a ansiedade de certas pessoas quanto a este tema. O dinheiro gera fortíssimas emoções e pedir dinheiro é uma coisa séria, que não admite rodeios, nem desculpas prévias.
Acontece que somos educados, quando muito, para “pedinchar” dinheiro, já não para pedir que nos devolvam o nosso dinheiro. De preferência não o faríamos, até por receio da reação do outro… É aí que entra a assertividade. Quando pedimos para que outra pessoa pague é necessário ir direto ao assunto e ser breve e conciso:” Pode, por favor, pagar a sua conta até sexta-feira, 11 de fevereiro?”; “Por favor, pode-me devolver os 50 euros que lhe emprestei na semana passada?”; “Eu enviei-lhe uma fatura no dia 1 agosto, que venceu no dia 30 de setembro. O pagamento ainda não chegou. Pode por favor regularizar o pagamento até ao final da semana?”
A assertividade aqui é saber exprimir convenientemente a minha posição e fazer respeitar o meu direito de ser pago. O outro poderá responder: “Receio que possa haver algum atraso porque eu estou à espera de um grande pagamento de um cliente…”. Ao que eu insisto: “Imagino que isso lhe trará algum problema, mas a minha fatura já venceu há uma semana, e eu gostaria que na próxima semana já estivesse regularizada”.
A assertividade é também a capacidade de saber ler a situação e o estado de espírito do outro e agir de modo a superar a situação e criar uma oportunidade para sermos respeitados, resolver o conflito e partir para uma solução duradoura. Se ficar absolutamente claro que não irá ocorrer pagamento tenta-se chegar a um compromisso aceitável, por exemplo, um acordo de pagamento faseado no tempo. O que não é permitido é ceder por incapacidade de ser assertivo.
Não há um roteiro para a assertividade, um guião que possamos decorar para nos ajudar em todas as situações. Cada um deve fazer uma autorreflexão sobre os seus pontos fortes e fracos, reforçar o que tem de melhor e procurar ultrapassar as suas dificuldades. Após essa análise, certamente encontrará as suas próprias soluções, que colocará em prática e afinará em função da experiência e dos resultados que alcançar. Para ajudar avançamos com dez regras praticas para ter em consideração quanto pedir dinheiro a alguém:
1. Assuma a responsabilidade de dizer “eu“. Por exemplo: “Eu concordo“, em vez de “Você tem razão”; “Eu discordo“, em vez de “Você esta enganado”.
2. É preferível fazer um pedido a fazer uma exigência. “Pode pagar-me?” é mais eficaz que o imperativo “Pague-me!”. O pedido é introduzido por uma pergunta. Na verdade, é o mesmo que uma ordem, mas soa melhor. “Porque não te calas?” é melhor que “Cala-te!”.
3. É também preferível fazer perguntas a fazer acusações. ” Está a ouvir-me?” é preferível a “Mais uma vez não me está a ouvir!” As acusações desencadeiam uma defesa imediata e conduzem a lugar nenhum.
4. É preferível dirigir-se ao outro de maneira positiva e construtiva, a dirigir-se de maneira negativa e destrutiva: “Eu espero que a prestação seja paga como foi acordado” ou “ é a segunda vez seguida que não recebemos o pagamento no prazo acordado, é necessário que não volte a acontecer” é preferível a “Voltou a esquecer-se de pagar. É um caloteiro!”. Tentar sempre falar do que o outro faz, não do ele é, ou como o qualificamos.
5. Não se diminua. Diga: “Posso“, em vez de “Pode-se”, “Quero” ou “Não quero“, em vez de “Não me importo”, “Talvez”, “Pode ser”, “Mais ou menos”.
6. Não banalize o que pretende dizer. Não diga: “Só mais uma coisinha…”, “Não é nada importante…”
7. Não se justifique demasiado porque isso é sinal de insegurança e não aceite nenhuma justificação que não possa ser demonstrada.
8. Não faça generalizações precipitadas. Os termos “Nunca” ou “Sempre” raramente estão certos e tendem a formar rótulos simplificam demasiado a realidade.
9. Não espere qualquer tipo de recompensa emocional por parte de quem lhe deve dinheiro.
10. Mantenha-se firme no tópico. Independentemente da justificação para o não pagamento, pretende receber no mais curto espaço de tempo possível.
Por último, tenha em atenção que a comunicação verbal deverá ser coerente com a comunicação não verbal. Pedir dinheiro é sempre difícil, mas com assertividade, regras práticas e algum treino, qualquer um poderá melhorar os seus resultados.
